quarta-feira, 15 de agosto de 2012

De cicatrizes, dores e tropeções


Isabelle era uma garota comum. Comum daquele tipo que sonha com um Príncipe Encantado, que chora ao ver filmes de romance e que passa suas horas vagas lendo livros com histórias bobas de amor.

Só que ela tinha cicatrizes. Cicatrizes que nunca deixaram de doer e que ela nunca teve coragem de deixar o curativo no lugar, para curar com o tempo. Sempre que a dor parecia estar passando alguma coisa a fazia ir lá e tirar o curativo para dar uma espiada. Acontece que a cada vez que ela dava esse puxão, junto com o resto do curativo saia toda a pele que estava começando a querer se formar para apagar aquele ferimento, e uma dor lancinante voltava, em pontadas agudas. Isabelle respirava fundo para conter a lágrima nos olhos e lá ia colocar mais uma vez o curativo, pronta para fingir por um tempo que estava tudo bem. Até que a curiosidade batesse e lá fosse ela outra vez, ver como estava.

O seu sofrimento era fruto do término de uma história que nunca chegou a começar. Talvez por isso doesse tanto – “e” e “se” são duas palavras inocentes mas que, quando se unem, podem criar um grande turbilhão. Aquilo tudo doía e a cada cutucada o ferimento entrava mais fundo na carne, tornando-o mais difícil de se curar.

Apesar de todas as histórias de amor e de todos os filmes bobos, a esperança de encontrar o seu príncipe encantado ficava cada vez mais apagada. Isabelle chorava e sofria, acreditando que sua hora tinha passado, que sua chance tinha sido desperdiçada. Tolice. Mal ela sabia que o Amor é maroto, que vem escondido, que gosta de ser surpreendente e aparecer quando menos é esperado. Ele não é bobo. Ele gosta de se aproximar de quem gosta primeiramente de si mesmo.

Um dia, quando Isabelle já estiver cansada de procurar o Amor a cada esquina, no colega de turma ou no rapaz no ônibus, quando tiver tido coragem de deixar o ferimento curar, o Amor vai chegar sorrateiro, como quem não quer nada, e tropeçar em cima dela. E então ela vai entender que o Amor não é a solução para todos os problemas. Ao contrário! Ele é um menino peralta que traz consigo um monte de confusões, porém essas serão encaradas com um sorriso nos lábios.