quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Confissões de Capitolina


Doutor Bento Santiago. Meu marido, meu amigo. Bentinho. Tão puro, tão ingênuo e me fazia rir com as suas bobagens.

Jamais esquecerei o nosso primeiro beijo. Éramos tão jovens, mas nos amávamos desde então. Bentinho penteava-me os cabelos. Seus dedos, um tanto quanto atrapalhados, devo dizer, trançavam-me os fios. Então eu me reclinei e ali, mesmo com os cabelos emaranhados, nossos lábios se tocaram pela primeira vez. O quão inocente éramos! Prometemos amor eterno sem ter idéia do que era eternidade. Não que eu tenha me arrependido, nunca! Amei Bentinho e sobre isso não poderia haver nenhuma dúvida!

Porém havia. Bento duvidava do meu amor. Talvez ele nunca tenha acreditado que aquela moça da Rua de Matacavalos teria se apaixonado por ele, mas ela se apaixonou, eu me apaixonei! Mas ele duvidava disso. Parecia que o meu amor nunca era o suficiente. Sempre que me olhava, no fundo Bentinho estava se perguntando se eu era sincera com ele. Mesmo depois de termos nos casado, mesmo depois de termos tido um filho juntos! Como ele pôde duvidar disso? Antes de sermos marido e mulher éramos amigos. Como pôde desconfiar de mim?

Ezequiel, nosso filho. Ezequiel, que de Escobar só tem o nome! E então Bentinho acusou-me de tê-lo traído com o seu melhor amigo, que nem morto pôde descansar em paz, sendo alvo de sua desconfiança. Talvez o problema de Bentinho seja esse: acreditar que ele é o único capaz de amar e confiar, mas que, no final, acaba não fazendo nenhum dos dois.

terça-feira, 26 de julho de 2011

End Of An Era

Quinze de julho de 2011. Fim de uma era.

Como descrever tudo que eu senti na estréia de Harry Potter e as Reliquias da Morte Parte 2, nos dias que a antecederam e nos dias (e na vida toda) depois dela? Não dá, simplesmente. Porque nem eu entendi direito o que aconteceu comigo.

Toda a bipolaridade antes da estréia. Quero que chegue logo, quero que demore mais um ano, quero voltar para 2001 e viver tudo de novo. E fui me preparando, avisando todos da minha hiperatividade incontrolável que viria no dia da estréia (assim como das outras vezes), aceitando que ia desidratar de tanto chorar com tudo que aconteceria nessa segunda parte do filme. E aí veio a surpresa.

Hiperatividade? Que nada. Na fila, começou a cair a ficha de que era o último. A última vez que eu iria sentir aqueles sentimentos. A última chance de sentar no chão do cinema por horas a fio rodeada de amigos para esperar o que esperávamos a meses, mesmo que depois saíssemos todos xingando o roteirista. O último encontro com meus melhores amigos do mundo inteiro, aqueles que cresceram junto comigo e com quem eu aprendi a ser quem eu sou. Quieta, na fila, as lágrimas vieram. E eu abraçava cada amigo que fiz graças à esse mundo. Amigos com quem eu consegui uma amizade tão verdadeira quanto Harry, Rony e Hermione. O fim estava incomodantemente próximo e eu não aguentaria o choque.

Então o rosto de Lord Voldemort apareceu na tela, gigante, sem aviso, e as lágrimas para as quais eu tinha me preparado fugiram. Choque. Sem reação. Sentimentos indefiníveis. As pessoas ao redor choravam, soluçavam, ficavam sem fôlego. E eu ali, olhando para a tela, afundada na poltrona. Como o fim poderia ter chegado? Nenhuma lágrima derramada durante o filme, e depois, só muitos abraços nos amigos potterianos. Não chorar não significava que eu sentia menos, que não doía. Ao contrário, acho que a dor foi tão grande que ficou entalada. E ainda está presa, latente.

Uma vida. E nada mais será o mesmo. Não porque seja um fim, porque não é. Não quero acreditar que seja, não vou deixar que seja e, por isso, não vai ser. A magia sempre vai existir. "Nós perdemos Harry esta noite. Mas ele não se foi. Está aqui, em nossos corações", disse Neville, e sim, ele está. E no meu estará para sempre, em um lugar inantigível, inabalável, insubstituível. Devo quem sou à Joanne Kathleen Rowling. Ela me ensinou muitas coisas que o mundo parecia estar esquecendo, e não só à mim, mas à toda uma geração. O valor e a importância da amizade, lealdade, coragem e, acima de tudo, do amor. Não estranhe se o mundo melhorar, nem que seja só um pouquinho, na próxima década. JK é responsável por uma geração que aprendeu coisas simples, mas importantes, que com certeza devem fazer a diferença.

Harry Potter vai fazer parte de mim para sempre. Sempre terei um sorriso ao lembrar do menino magricela de óculos e testa rachada, da cdf sangue-ruim de cabelo volumoso e do ruivo traidor do sangue, sardento e de vestes de segunda mão. Sempre que eu quiser fugir do mundo terei várias chaves de portais em casa, encontradas em qualquer lugar entre "Sr. e Sra. Dursley eram perfeitamente normais, muito bem, obrigado" e "Tudo estava bem".

Digo com o maior orgulho e felicidade do mundo que, sim, eu acompanhei Harry até o fim. Malfeito feito, sou pottermaníaca até a alma.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Only the beginning of the adventure


Imagem: we♥it


Ela sabia que amava. Amava como nunca havia amado antes e como nunca amaria de novo. Amava daquele jeito de sentir borboletas no estômago, um aperto inexplicavelmente gostoso no coração e um inconsciente e natural sorriso cada vez que o via.
Ele não amava. Ou melhor, não ainda. Estava preste a sentir coisas que duvidada existir e que nunca conseguiria explicar mais tarde. Estava sentado ao lado dela.
Bonita, inteligente, divertida. Ela era agradável, mas ele nunca a tinha olhado realmente. Não como ela o olhava toda vez que ele não estava prestando atenção. Era tímida, mas aquilo a estava sufocando. Encarava os próprios pés enquanto tentava entender o que a fazia se sentir daquele jeito. Fechou os olhos e disse num sussurro lento:
- Não são os seus olhos, nariz ou boca. É porque eles estão juntos e ficam bem em você.
Ele a olhou e sorriu.
- Eu posso dizer o mesmo sobre você.
Ela virou e encontrou aqueles olhos. Castanhos, comuns para a maioria. Mas não para ela, não os dele. Estes eram intensos e tinham um brilho muito maior. Tão profundos que ela se perdeu dentro deles por alguns segundos até conseguir balbuciar uma palavra.
Ele percebeu que nunca tinha olhado de verdade nos olhos de ninguém e naquele momento sentiu um aperto estranhamente gostoso no coração e algo que provavelmente era o que chamavam de borboletas no estômago. E então ela falou.
- Desculpe. Eu estava errada.
Uma pequena ruga surgiu entre as sobrancelhas dele. Não entendia o significado daquilo.
- O quê?
- Talvez sejam os seus olhos – disse ela – Você tem os olhos mais bonitos que eu já vi.
Ele sorriu. Não queria interromper aquele olhar, mas valeria a pena. Fechou os olhos e a beijou.

Ela teve a certeza de tudo o que sentia e não poderia desejar mais nada. Estava feliz.
Ele amava agora. Não sabia ainda, mas estaria para sempre ao lado dela.


"You're so beautiful
But that's not why I love you
I'm not sure, you know
That the reason I love you
Is you, being you, just you"

I Love You - Avril Lavigne